Atendo e já atendi um bom número de pessoas que chegaram até mim com uma demanda muito pesada: não viam sentido em continuar vivendo. E com a simplicidade de alguém que pode causar a própria morte, essas mesmas pessoas buscavam ajuda porque algo dentro delas queria viver.
Um dia eu ouvi que a morte é uma solução definitiva para um problema temporário, ou seja, se tivermos paciência, o cenário vai mudar, algo vai se transformar dentro ou fora de nós, e estar no jogo vai voltar a fazer sentido. Mas tenta convencer alguém com uma dor existencial a acreditar nisso. Não é das tarefas mais fáceis.
Primeiro porque as pessoas sentem quando existe verdade em nossas palavras. Se for um discurso pronto, não vai ecoar. E depois, porque a pessoa já pode estar esperando uma mudança no cenário há tempo o bastante para ter cansado e essa decisão já ter sido planejada nos mínimos detalhes.
Considero importante falar sobre esse tema porque ele continua aparecendo nos atendimentos e, recentemente, soube de uma pessoa que cometeu esse ato extremo, fiquei bastante abalada e cultivando dentro de mim a sensação de que sempre vale a pena falar sobre o sentido da vida, pois nunca se sabe se essa mensagem não vai chegar justamente em quem mais está precisando.
Então eu lanço esse questionamento: o que te mantém no jogo? Porque levei anos para chegar à minha resposta, e antes disso, como tantas pessoas, eu também não entendia porque deveria continuar me submetendo a uma vida vazia.
Se tem algo que gosto de dizer a qualquer pessoa que chega até mim falando que quer se matar é: ok, isso é uma opção. Não vou tirar de você a legitimidade desse desejo. Mas, já que essa alternativa existe e sempre vai existir, que tal tentar todas as outras possibilidades antes? Veja bem, se você pode não estar mais aqui na próxima semana, o que você gostaria de fazer antes disso? Que escolhas você adiou, que lugares você não visitou? Que caminhos você não percorreu?
Assim, uma nova chance de vida torna-se possível. Foi desse jeito comigo, quando decidi que as terapias holísticas não seriam algo a que eu me dedicaria somente quando já estivesse concursada, com estabilidade profissional, pois o preço para passar num concurso de alto nível era tão elevado que estava sugando minha vontade de viver. E eu só queria atender a uma expectativa familiar, nem era meu sonho ser funcionária pública.
Cheguei no auge da desvitalização, levantar da cama era um suplício, eu desconhecia o sentimento de entusiasmo. Ou eu abandonava aquele ideal de filha ou ia acabar sucumbindo. Busquei ajuda e, com o rosto molhado de tanto chorar, escutei da minha terapeuta: isso vai passar. Desistir agora vai te impedir de ver o que está por vir na sua vida. Ela me fez acreditar que havia mais vida para viver. Que eu poderia construir uma nova realidade, do exato lugar onde eu estava. E assim eu fiz.
Quando converso com meus clientes sobre tantos caminhos que eles ainda não tentaram, é impressionante observar o brilho voltando aos olhos deles. Uma simples proposta: imagine sua vida daqui a 1, 5, 10 anos. Isso já faz o panorama existencial ser reconfigurado.
Tenho muito claro em minha mente que ainda não fiz nem metade do que preciso e quero fazer como Ysa Nuit. Para conseguir realizar tantos objetivos, tenho de continuar aqui, vivendo um dia após o outro, planejando os próximos passos, acolhendo o cansaço quando preciso respirar e sustentando a coragem de ser quem sou, além de me tornar, cada vez mais, quem nasci para ser.
Sinceramente, não sei se minhas palavras farão sentido agora, mas se quiser conversar, contar sobre o que está passando, conte comigo em sua jornada. Desde já eu digo que não terei as respostas, mas posso ser uma boa companhia para encontrar as perguntas.
Quem decide quando o jogo termina? Quando você achar que não tem opção, que a única saída é pular fora do tabuleiro, lembre-se: talvez, pra você, o jogo só esteja começando.
